P.O.
V Justin
“É como se você
gritasse, mas ninguém pudesse ouvir. Você sempre se sente envergonhado por
alguém ser tão importante daquele jeito, que sem essa pessoa você se sente um
nada. Ninguém nunca vai entender o quanto isso dói. Você se sente sem
esperança, como se nada pudesse te salvar. Tudo se foi e está acabado, você
quase deseja ter todas aquelas coisas ruins de volta, só para com elas virem às
boas junto.”
Cores, luzes fluorescentes e fumaça de cigarro. Corpos me
rodeavam, acelerados e cheios de vida. Eu podia ver a cor de todas as auras das
pessoas naquele lugar: Uma mistura de um amarelo com vermelho. Alegria, amor,
paixão e sedução. E quando eu olhava para mim mesmo, me analisando, não
encontrava aura nenhuma, sem vida e sem alma. Era assim que eu estava, assim
que me sentia. Totalmente perdido, e quanto mais gritava por socorro, mais me
sufocava em silencio. Não sentia nem a pulsação do meu coração, apenas por
pensar que o dela não batia mais, por minha causa. Era algo impossível de
acontecer, era como se, de um dia pro outro, você descobrisse que sempre foi um
bonequinho controlado por gigantes que viviam em um planeta distante.
Impossível e complexo demais pra qualquer mente humana.
Estava sentado em um sofá de couro enquanto varias mulheres me
rodeavam. Todas com a aura de uma cor chamativa, todas desejando o poder, a
luxuria. Eu simplesmente não ligava, apenas queria ficar ali sentado, sem
conseguir me levantar, dar um passo sem cair. O mais irônico de tudo era, que
eu realmente era um idiota que achava que não podia sentir nada além de posse
por alguém. Meu relacionamento com Selena sempre foi de posse certo? Eu a achei
por acaso, tive o melhor sexo da minha vida e quis ajuda-la a mudar de vida,
ela era uma mulher tão especial e não merecia a vida fodida que levava. Esse
era o meu objetivo, deixar ela com uma vida melhor, foder a hora que eu
quisesse e mantê-la ao meu alcance para saciar minha sede de posse doentia. Mas
me envolver não estava em meus planos, meus sonhos ou meus pesadelos. Nem uma
conversa eu pretendia manter com ela, deixar alguém tão inferior como ela
entrar em minha vida era ridículo. Então, por que eu deixei, mesmo assim? Ela
me passou algo estranho, algum sentimento reconfortante que sempre me fazia ser
sincero, me preocupar ou sorrir sem nem perceber. Isso era coisa de
mulherzinha, ou homem que não tem uma vida boa o suficiente e tem que se ocupar
com relacionamento. Eu tinha uma vida, tinha negócios pra cuidar, eu não tinha
tempo e nem vontade de ter algo a mais que uma relação carnal com alguém. Eu
nunca me importei em matar pessoas. Já matei gente que mereceu, torturei ou
matei por diversão, já tirei a vida de pessoas inocentes, destruí famílias. Mas
matar ela tinha abalado com todas as minhas estruturas, doía tanto que eu
pensava não sentir mais nada. Pela primeira vez em toda a minha vida de merda, eu estava me achando um merda.
Eu sentia nojo, raiva e estava tão decepcionado comigo mesmo que podia afirmar
com todas as letras que trocaria tudo que eu tenho pra tê-la de volta.
(...)
Duas semanas depois...
O toque alto do meu celular
interrompeu todo o meu sonho (ou pesadelo). Bufei alto abrindo os olhos de
imediato e sentindo minha cabeça explodir. Passei a mão pelo criado mudo
derrubando uma garrafa de água e logo achando o celular, olhei no visor
sentindo minha cabeça doer cada vez mais, era Ryan.
__Que foi?
__Acordou com o pé esquerdo foi Bieber?
__Eu nem tive tempo de tirar o pé
da cama, seu cabaço.
__Foi mal. Só liguei pra avisar que estamos te
esperando na boate, você não pode viver de ressaca, meu irmão. Temos um assunto
sério pra tratar.
__Me manda um
cartão postal que eu respondo depois.
__Isso é sério, Justin. Cara, estamos tentando fazer
vista grossa com você... Mas ta todo mundo abalado e isso ainda está
interferindo nos nossos negócios. Se você não aparecer por aqui em meia hora,
te cortamos da jogada.
__Ta bom, Ryan. –
Desliguei o telefone e o joguei contra a parede.
As coisas estavam
fora de controle, admito. Não conseguia mais me concentrar nos negócios, por
puro relaxamento mesmo. Era bem mais fácil viver na farra e usar a desculpa que
eu estava emocionalmente abalado do que trabalhar. Eu já havia superado, talvez
nem havia começado a sentir algum tipo de dor. Ela era insiginifante para mim,
quando estava viva, então por que seria diferente agora com sua morte?
Tomei um banho
rápido e gelado apenas para acordar e vesti uma calça jeans e um casaco de
couro devido ao frio que dominava as ruas de Nova York. Parei na frente do
espelho para arrumar meu cabelo quando mais uma vez fui interrompido pelo meu
celular. Eu ia matar esse filha da puta do Ryan.
__O que você quer
agora, porra?
__Justin? Filho? – Uma voz doce e emocionada
soou do outro lado da linha.
__Ah, oi mãe. Ta me
ligando por que?
__Me certificar de que você ainda está vivo.
__Há, que engraçada
dona Pattie. Tudo bem por aí?
__Por aqui não, por aí. – Ela deu uma
risada baixa e eu fiquei sem entender. – Estou
bem sim... E seu pai também está bem. Estamos voltando hoje de viagem, só
queria te avisar.
__Tudo bem. Eu
tenho coisas mais importantes pra resolver agora, mas pode passar aqui em casa
hoje a noite.
__Ah é verdade... Você já se mudou... – Sua voz parecia
chorosa, ah não... – Tchau filho, até
depois, te amo muito.
__Tchau, mãe.
Finalizei a ligação
suspirando alto. Era tudo que eu mais queria agora, meu pai de volta cheio de
cobranças e minha mãe no meu pé me investigando. Eu estava literalmente fodido.Peguei
o primeiro óculos escuro que achei e a chave do Fisker, indo direto a boate.
Coloquei o som no último volume, acendi um cigarro e meti o pé no acelerador.
Estava na hora de voltar a ativa, caro Bieber.
Adentrei a famosa
boate principal observando algumas putas fazendo a limpeza do lugar e subi
direto ao escritório, onde os meninos me aguardavam.
__Eaí, Drew. –
Cumprimentei um por um e fui até minha cadeira, tirando os óculos e colocando
os pés em cima da mesa.
__Anda, fala logo o
caralho que anda acontecendo por aqui porque tenho algumas coisas pra cuidar.
__Invadiram a boate
ontem a noite, levaram metade da grana dos caixas e mais algumas vadias. – Ryan
disse sem expressão alguma.
__O QUE? COMO ISSO
FOI ACONTECER? COMO VOCÊS DEIXARAM, CARALHO?
__Os caras estavam
disfarçados Bieber. Pagaram as vadias pra consumo pessoal e reservado e depois
roubaram o caixa aonde tinham depositado o dinheiro e mais 30%.
__E pelo menos
descobriram quem foi? Alguma digital? – Perguntei nervoso.
__Não foi preciso.
Um dos homens deixou um envelope com a recepção endereçado à você. – Chris se
manifestou me entregando o envelope. – Não abrimos, estávamos te esperando. Mas
temos certeza de que foi a gangue, pelo X quase invisível que tem no canto
direito. – Peguei o envelope na mão analisando o local aonde havia o X e depois
o abri.
“Nem precisei matar a vítima número 2 da lista, você
mesmo já pulou algumas etapas para mim e fez isso por você mesmo. Quer que eu
agradeça, prossiga ou te entrega a lista completa? Quem sabe assim você não me ajuda
a acabar com a vida de todos ao seu redor?
Te vejo por aí, Bieber. É uma pena que você não
possa dizer o mesmo.”
Terminei de ler o
bilhete e podia sentir meu sangue ferver por todo o meu corpo. O amassei e o
joguei com força na parede. Me levantei da cadeira indo em direção a porta.
__Hey, espera aí,
Justin. Aonde você vai?
__Resolver alguns
probleminhas pendentes. Eu quero que você Drake, e você Lil, rastreem todo esse
lugar, achem qualquer coisa nesse bilhete, que possa ajudar a descobrir quem
nos roubou. Se concentrem nisso.
Fui descendo as
escadas e em um piscar de olhos já estava fora da boate, estava agindo por
impulso e sentia meu coração bater mais forte do que o normal.
Destravei o carro
quando senti alguém tocar meu ombro com força, olhei para trás avistando Ryan
com uma cara de preocupado.
__Você não pode sair assim, ir fazer merda sem
nos falar nada. Somos uma equipe Justin, temos que nos concentrar no mesmo
objetivo.
__Temos um objetivo
caçar e matar esses filhos da puta, o que eu vou fazer é só um detalhe.
__Você não entende?
Eles vieram até aqui, roubaram um valor insignificante só pra ter um motivo
para entregar o bilhete. Temos que nos concentrar em um plano novo para tirar a
carga dos governadores e você quer se concentrar nesse atacado de merda?
__Ryan, você não vai
me dizer o que fazer, nem me dizer sua opinião, porque eu to me fodendo pra ela
e pra tudo que envolve você, ou o que faz ou pensa. Será que da pra entender
isso? Você não quer acabar com a raça desses desgraçados? Quer encobrir eles?
Perdeu a honra da nossa gangue meu irmão?
__Não é nada disso Justin.
Deixa de ser tão cabeça dura, não vem com esse papo de honra porque honra não
tem nada a ver com a sua raiva desnecessária.
__Você não me
conhece Ryan, não ouse falar o que eu estou pensando ou não.
__SIM, EU TE
CONHEÇO PORRA! – Ryan gritou perdendo o controle. – TE CONHEÇO E SEI O PORQUE
DE VOCÊ ESTAR ASSIM, EU LI O BILHETE, VOCÊ QUER SE SAIR POR CIMA DESSA, QUER
ARRANJAR UM MOTIVO PRA DESCONTAR SUA FRUSTAÇÃO DE TER PERDIDO A SELENA, EU TE
CONHEÇO CARALHO E CONHEÇO MUITO BEM.
__Não viaja, seu
merda. Já mandei você calar a porra da boca, não quero arrebentar tua cara. To
fazendo isso pela nossa gangue, pelo nosso império.
__NÃO! VOCÊ TA FAZENDO ISSO PORQUE ELES FERIRAM SEU
ORGULHO, FERIRAM ELE QUANDO ATACARAM A BOATE, QUANDO A SELENA FOI MORTA NA ÁREA
DELES, QUANDO ELES DEIXARAM AQUELE MALDITO BILHETE! É POR ISSO QUE VOCÊ ESTÁ
FAZENDO TODA ESSA MERDA.
__SE VOCÊ ME
CONHECE TÃO BEM, RYAN, DEVERIA SABER QUE ELES FERIRAM BEM MAIS DO QUE O MEU
ORGULHO. – Suspirei alto e arragalei os olhos na hora. Eu não pretendia falar
aquilo, apenas escapou. – Você deveria saber. – Disse nervoso olhando nos olhos
de Ryan que me encarava perplexo e entrando no carro, sem dar mais tempo para
ele falar algo.
P.O.V Chaz
__Chaz, eu e Lil
estamos indo atrás de uma das pistas de quem invadiu a boate ontem. –Drake me
avisou. – Você pode entregar a propina pros policiais do porto?
__É... Não vai dar,
dude. Pede pro Chris fazer isso. Tenho algumas coisas sérias pra resolver.
__O que você vai
resolver? – Twist perguntou.
__Assunto meu cara,
não enche o meu saco não. – Disse e bufei nervoso, saindo do escritório e indo
até meu carro.
O vento que pousava
sobre Nova York nunca esteve tão gelado, o clima em toda a cidade nunca estava
tão morto, tão pesado. Eu sabia que Selena fazia falta ao Justin, alías, a quem
ela não fazia falta? Justin só era muito filho da puta pra admitir isso. Em
pensar que ela sempre pertenceria a ele, em lembrar de todas as nossas
conversas e de como os olhos dela vacilavam quando ela falava sobre seus
sentimentos. Bieber era o lobo mal de qualquer conto idiota de menininhas
inocentes e isso servia para Selena também, ela era uma menina doce e inocente
presa no corpo de uma mulher forte e sensual. Dava pra ver o porque dele querer
se apoderar dela de certa forma que a arrastou para sua gaiola de ouro, ela era
um troféu e tanto para ele exibir e amaciar seu ego. Selena tinha se apaixonado
tão rapidamente e caído nas garras dele sem nem perceber o quão doentio ele
era, em relação a ela e ao mundo.
O fato era que,
Justin não tinha coração, nem ao menos tinha alma. Ele tinha vendido todo o seu
lado puro para o Diabo e se entregue apenas ao lado escuro e sombrio de sua
vida. Justin pertencia ao sentimento de ganância e somente a ele, ele sempre
queria mais, se apoderar de mais, ser o “mais” da situação.
E Selena tinha
amado aquele babaca. E do outro lado, em um canto escuro repleto de medo e
covardia, estava um outro babaca que estava aprendendo amar. Muito prazer, sou
aquele otário que aprendeu a amar a mulher proíbida. A mulher que sempre
estaria morta para mim, pois sua alma
e seu coração estavam tentando arranjar um espaço na vida infernal de Justin
Bieber. Não que eu não esperesse por isso, eu nasci sabendo que a lei dos
fracos e dos fortes sempre existiria e que nem sempre eu seria o mais forte. Eu
só não estava esperando o “sempre’’ se tornar concreto e se juntar com o
adjetivo fraco. Era assim que eu me sentia diante de Justin e Selena, o sempre
fraco.
Estacionei o carro
a algumas ruas do lado clandestino de NY e fui caminhando com as mãos no bolso
até o bairro onde costumava ficar as cinco gangues antigamente. Sorri com
aquele pensamento, o que eu não daria para viver naquela époica...
Entrei em mais
algumas ruas, cada vez mais estreitas, olhando sempre para trás. A sensação de
que alguém estava sempre com os dois olhos pregados em mim me perseguia, mas
talvez fosse apenas a pressão que eu estava enfrentando nessas últimas semanas.
Depois de mais uns
10 minutos andando por uma parte apenas de contruções abandonadas daquela
região, cheguei ao meu destino. Dei a volta no prédio antigo e mal acabado,
encontrado outro pequeno edifício velho e de apenas três andares. Ele ficava no
fundo de uma rua sem saída, inabitada e ficava escondido em meio a tantas
contrugões grandes e árvores. Peguei a chave do bolso do casaco abrindo a porta
de madeira velha do prédio e subindo as escadas, no escuro.
Cheguei ao terceiro
andar, destrancando mais uma vez uma porta de madeira antiga e antiguada, encontrando
a luz da sala acesa e uma movimentação no sofá velho.
__Hey Sel, como se sente? – Perguntei sorrindo e ela
sorriu de volta, jogando no chão o cobertor que a cobria e acenando com a cabeça.