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domingo, 23 de junho de 2013

Capítulo 19- Black.

P.O.V Selena
Algumas coisas na vida são difíceis de explicar. Como, por que as pessoas que mais amamos tem que partir. Ou por que nos sentimos mais felizes em um dia de inverno ensolarado do que em um dia de verão com chuva. Ou por que seguimos nossa vida pelo orgulho. Acho que isso é um pouco pessoal.
Sim, eu sigo minha vida pelo orgulho, e a pior coisa que eu poderia fazer para mim mesma é demonstrar fraqueza. E eu não vou, nunca mais, me prejudicar.
Girei a chave destrancando a porta e adentrando o apartamento, que cheirava a mofo e terra molhada. As luzes estavam todas apagadas e as cortinas fechadas, nem sinal de Chaz. Não sabia ao certo se isso era um bom ou mau sinal, porque eu sentia falta dele, mas não queria enfrenta-lo no momento, com tantos pensamentos me atacando ao mesmo tempo. Tateei a parede até achar o interruptor para acender as luzes da sala, o cansaço físico já me atacava, mas não me incomodava tanto quanto os pensamentos e lembranças que atacavam minha cabeça, fazendo um barulho estrondoso e me deixando tonta. Quando finalmente achei o interruptor, fui surpreendida por uma mão, que agarrou meu pulso e me puxou para a parede, fazendo meu corpo se chocar com o cimento gelado. Minhas mãos foram juntadas as minhas costas, e então a mão gelada e brutal as amarrou. Minha tontura aumentou e por mais que eu tentasse, não tinha forças pra me debater.

P.O.V Justin                                 
Exausto.  Essa era a palavra mais adequada. Exausto de pensar, de gritar, de sentir raiva e aquele sentimento sufocante que chamavam de... Tristeza. Estava exausto fisicamente, ainda sentindo todas as partes do meu corpo se retrair com o seu doce toque. Sentia seu cheiro por toda a minha pele, e só queria me desprender de todos aqueles sentimentos sujos.
Telas vazias, folhas de argila intactas
Espalhadas na minha frente como o corpo dela um dia esteve
Todos os cinco horizontes girando em torno de sua alma
Como a Terra ao redor do Sol
Agora o ar que experimentei e respirei mudou de repente
Deixei o carro no jardim de qualquer jeito e peguei uma pasta no banco de trás com alguns pagamentos a serem feitos da boate. Meu dia estava cheio, cheio de compromissos e frustração. Ouvi uma movimentação e uma mistura de vozes incomum vindo da sala de tv e me deparei com todos os caras jogados no sofá jogando videogame e mexendo no celular.
__BIEBER! – Chaz gritou divertido, mas seu sorriso logo se desmanchou quando notou minha cara de poucos amigos.
__O que vocês estão fazendo na minha casa? – Perguntei sem delongas e sem tentar disfarçar que não tinha gostado da ideia.
__Eu os convidei para um almoço como antigamente! – Pattie apareceu da cozinha, vindo até mim com um sorriso no rosto e me dando um beijo na bochecha. – Por onde andou filho?
__Resolvendo uns negócios. – Falei me afastando dela. – Vou subir e tomar um banho, não sei se vou almoçar.
­­__Não vai ficar aqui com seus amigos? – Ela me perguntou com uma expressão de decepção no rosto.
__Tudo bem, eu desço. – Passei a mão no rosto olhando pros caras, Ryan me olhava atentamente, Drake e Brown estavam jogando videogame e Chaz e o Twist mexiam no celular despreocupados. Za havia desaparecido.
Subi largando a pasta em qualquer lugar na cama e tirei a camiseta e os óculos. Precisava de um bom banho pra tirar todo o cansaço e o cheiro de Selena do meu corpo, se isso era possível.
E o que ensinei a ela era tudo
Sei, ela me deu tudo que ela tinha
E agora minhas mãos ásperas tremem sob as nuvens
O que foi tudo isso?
Todas as imagens tornarem-se pretas, tatuando tudo
__É ela. – Ryan apareceu na porta do meu quarto que ainda estava aberta. Me virei pra ele com uma expressão confusa no rosto.
__Ela o que?
__O motivo para suas olheiras e essa sua cara de fodido. É a Selena. – Ele cruzou os braços na altura do peito, esperando alguma resposta.
__Você é um bosta. – Disse sério e depois suavizei a expressão, respirando fundo. – Sempre sabe o que anda acontecendo comigo.
__Fala.
__Nos encontramos. – Eu disse simplesmente e ele arregalou os olhos, abriu a boca pra falar, mas eu o interrompi. – Ela está viva cara. Vivinha, intacta, a não ser por alguns ferimentos. Eu a encontrei no raxa ontem, eu a levei pro galpão.
__Justin, eu não acho que...
__ELA ESTAVA LÁ PORRA! Eu também não imaginei isso, e agora estou me sentindo um completo idiota por não pensar nessa hipótese.
__E pra onde ela foi?
__Eu não sei! Ela parece uma assombração, eu acordei e ela já não estava mais lá. Não sei onde ela está escondida, mas tenho certeza que tem alguém escondendo ela.
__Justin, tem certeza que você não imaginou? Digo, você estava chapado, podia ter visto o rosto da Selena em outra mulher com quem ficou.
__Eu não sou louco, Ryan. – Bufei. – Era ela, seu rosto, seu corpo, seu cheiro, sua voz, a mesma cara de vadia que estava me enganando esse tempo todo. Eu vou acha-la, ah se vou.
Fui para o banheiro e bati a porta com força o deixando sozinho.
E pensamentos confusos invadem minha cabeça
Estou girando, oh, estou girando
Como pode o Sol se por tão rápido?
E agora minhas mãos machucadas seguram com cuidado os vidros quebrados
O que foi tudo isso?
Tomei um banho rápido, pois todo aquele papo com Ryan havia me deixado nervoso.
Peguei a primeira roupa que vi pela frente, junto com meu par de óculos escuros e a chave de um dos carros e desci as escadas rapidamente.
__Aí Justin, a gente já ta indo. Você demorou então, resolvemos comer sem você. – Za disse como um pedido de desculpas. Demorei? Então meu banho não deve ter sido tão rápido quanto eu pensava.
__Tanto faz. – Disse ainda mal humorado. – Tô saindo também, e não vou passar na boate hoje. Ryan cuida disso. – Entreguei pra ele a pasta com os pagamentos a serem feitos na boate e saí de casa, sendo barrado por Pattie no jardim.
__Onde você vai agora?
__Resolver minhas coisas, não me lembro de ter que te dar satisfação. – Disse impaciente me livrando de seus braços e de sua expressão protetora.
__Grosso. – Ela resmungou e entrou em casa. – Dei um sorrisinho amargo já adentrando o carro.
Fui dirigindo feito um louco pelas ruas, minha mente trabalhava rápido para achar alguma dica de em que lugar a encontraria. Parei o carro em uma sinaleira e respirei fundo, fechando os olhos. Estava tão pilhado que minhas mãos tremiam enquanto procurava um cigarro. Antes de conseguir acender um, senti duas mãos geladas e femininas cobrirem meus olhos, e uma respiração se aproximar do meu ouvido.
__Sem fumar dentro do carro, querido. – A voz era rouca e completamente vulgar. E até... Familiar? Consegui me desprender de suas mãos e virei para trás assustado.
Candice Miller estava pelada no banco de trás do meu carro.
P.O.V Selena
Abri os olhos e tudo que consegui ver foi: preto. Duvidei de que realmente havia aberto e pisquei várias vezes, tentando ver se algo se iluminava. Nada. Tudo continuava apagado, abafado e sufocante.
Todas as imagens tornaram-se pretas, tatuando tudo
Todo o amor tornou-se mal, transformou meu mundo em escuridão
Tatuando tudo que vejo, tudo o que sou, tudo o que serei 
Tentei me mover, mas senti uma fisgada forte na cabeça e parei. Ainda estava fraca demais para conseguir levantar. Tentei mover meus braços para tocar a cabeça, mas percebi que eles estavam amarrados a minhas costas. Por mais que tentasse, não conseguia lembrar o que havia acontecido e como tinha parado ali.
Ouvi vozes abafadas e um barulho alto de porta enferrujada soou. Uma luz entrou em contato com meus olhos, incomodando minha visão. Fechei os olhos automaticamente quando ouvi passos.
__Viu, eu disse que era ela. Eu disse que não ia fracassar. – Uma voz masculina nervosa disse.
__Finalmente, talvez você não tenha se tornado tão imprestável assim. Agora as coisas vão começar a andar como o planejado. – Não podia ser... Senti meu coração bater mais forte. – Eu consegui a garota. – A voz forte e quase que perigosa soou mais uma vez. Eu tinha não só certeza, e sim certeza absoluta de que era ele quem estava por trás disso tudo.
Eu estava literalmente fodida.
P.O.V Justin
__Pronto. Agora me explica como você conseguiu entrar no meu carro. – Disse deitando no banco do carro, olhando sério para a loira nua em minha frente. Tentando ignorar a vontade louca de foder ela e os nós que minha mente fazia.  Havia estacionado em um acostamento no meio do nada.
__Eu tenho meus truques, achei que você soubesse. – Ela disse passando para o banco da frente e sentando no meu colo. Fechei as mãos em punho e tranquei a respiração, tentando afastar a excitação de mim, enquanto Candice passeava com as mãos pela minha barriga e rebolava em meu colo.
__O que você está fazendo aqui Candice? Em Nova York? No meu carro?
__Eu senti saudade. – Ela sorriu mordendo o lóbulo de minha orelha. – E quis te visitar.
__Eu não sou otário, achei que você soubesse. – Disse agarrando sua cintura e copiando sua frase. Comecei uma trilha de beijos pelo seu busto e seu pescoço, e ela fincou as unhas no meu abdômen, mostrando que também estava excitada.
Ela me olhou, mordendo o lábio inferior e eu apertei mais uma vez sua cintura, aproximando nossos rostos e invadindo sua boca com minha língua sem esperar seu consentimento. Ela encostou seus seios em meu peito e seus bicos endureceram. Continuei brincando com seu pescoço enquanto ela tirava minha blusa agressivamente sem muita dificuldade e fazia um caminho com suas mãos apertando meu peitoral, meu abdômen e chegou ao zíper da minha calça. Me inclinei deixando ela descer minha calça e brincar com a barra da minha cueca. Meu membro implorava pra ser solto e aquele joguinho de provocação acabar. Nossas bocas se encontravam sem sincronia, porém com uma ferocidade cada vez mais além. Minhas mãos tocavam sua bunda, sua coxa bem definida e subiam para seus seios, enquanto ela revirava os olhos e estimulava meu membro por cima da cueca. O carro estava abafado, nossas respirações entre cortadas e o suor escorria pela minha testa. Comecei a marcar a região de seus ombros e seu pescoço com meus dentes, enquanto ela liberava por completo meu membro e o masturbava. Puxei uma camisinha do porta luvas ainda com ela em meu colo, arranhando minhas costas e beijando meu pescoço. Entreguei a camisinha a Candice, e em dois tempos ela já havia colocado e se agarrado a mim. Ela levantou um pouco, fazendo seus seios encostarem-se a meu rosto e eu beijei o espaço entre eles, ela se sentou novamente soltando um gemido alto quando eu entrei totalmente nela. Seus arranhões foram ficando cada vez mais fortes e eu a bombeava com força, sentindo o suor escorrendo pela minha testa cada vez mais. Candice não continha um gemido se quer, e eu gemia junto, por mais que a excitação que sentia por ela não era o suficiente para me enlouquecer. Beijei-a com mais vontade puxando seu cabelo com força e mordendo seu lábio inferior. Ela gritou entre os gemidos e eu senti que tinha chegado ao seu limite. Bombeei-a com mais força e cada vez mais rápido e fechei os olhos, reprimindo um gemido quando finalmente gozei.
Candice se agarrou mais em mim e passeou a mão pelas minhas costas, deslizando algo gelado até chegar a minha nuca. Logo reconheci, ela havia encostado uma arma em mim. Peguei a minha que estava guardada ao lado do banco de motorista e encostei-a na  sua cintura.
__O que você quer porra? – Falei entre dentes. Eu sabia que ela estava ali por algo, e era algo muito além de voltar a foder comigo.
__Quero que você desencoste essa arma de mim e dirija pra onde eu mandar. – Ela disse autoritária. Ri sem humor balançado a cabeça e desencostando a arma de seu corpo.
__Não recebo ordens de ninguém, quem dera de uma vagabunda feito você, loira. – Disse no pé do seu ouvido fazendo-a estremecer. Eu sabia que ainda mexia com ela, muito mais do que ela mexia comigo.
__Acredite, você vai querer receber de mim. – Ela disse afastando o cabelo do pescoço e se inclinando para mim, senti seu cheiro doce e forte demais invadir minhas narinas e olhei para o lado tentando desviar de seu jogo de provocação. – Olhe para o meu pescoço, seu idiota. – Ela disse impaciente.
Olhei também impaciente e minha expressão caiu. Um X estava tatuado ali. Agora tudo fazia sentido, ela trabalhava para aqueles filhos da puta! Puxei seu cabelo com força fazendo-a me encarar e encostei novamente a arma, só que agora em sua têmpora.
__Me fala quem é seu chefe e eu deixo você sair viva daqui. – Disse com raiva. Ela riu e eu puxei seu cabelo com mais força.
__Para Justin. Você está me machucando. – Ela disse entre dentes fechando os olhos.
__Eu não me importo. Fala logo, vadia. – Apertei a arma com mais força contra seu rosto, e soltei seus cabelos, apertando sua bochecha dessa vez. – FALA LOGO, CARALHO.
__CALMA, CALMA! Me ouve, por favor! – Afrouxei um pouco a mão de seu rosto e a deixei falar. Ela respirou fundo se fazendo de vítima e eu revirei os olhos.
__Cinco minutos, nada mais. – Disse.
__Me mandaram aqui, pra te seduzir e te conduzir a um lugar. O lugar... Que estão escondendo ela.
__Ela?                                   
__É, sua garota. Aquela moreninha sem graça. – Ela revirou os olhos nervosa. – Não me importa, foi só uma ordem que eu segui. Eles estão com ela e é melhor você ser rápido ao ir até lá.
 __Recebeu ordens? Por que está trabalhando pra eles?
__Porque eu precisei disso. A vida não é fácil pra todo mundo, Bieber. Nem todos tem a mesma sorte que você.
__CALA A PORRA DA BOCA. – Não admitiria que ela falasse comigo como se eu fosse privilegiado em algo. Eu só era mais esperto que os outros, e isso não era minha culpa. – Só me fala o endereço logo, vou te largar em qualquer lugar perto do local. E coloca sua roupa. – Disse enquanto ajeitava minha calça e vestia minha blusa. Ela bufou e foi para o banco de trás, colocando o vestido que estava usando e pulou para o banco da frente novamente.
Afundei o pé no acelerador, agora sim, acendendo um cigarro e apertando o volante com força.
Sei que algum dia você terá uma vida maravilhosa, sei que você será uma estrela
No céu de outra pessoa, mas por que, por que, por que
Não pode ser, não pode ser no meu?
Nós, nós, nós, nós, nós devemos ficar juntos! Juntos!
Aqueles cretinos tinham conseguido me irritar, raptando a Selena e usando isso a seu favor para me prejudicar. Talvez eu não fosse o único esperto no jogo, mas isso iria mudar. Ah se iria.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Capítulo 18- Just Tonight/Sweet Nothing.

P.O.V Justin
O lugar continua parado no tempo, exatamente como quando eu tinha o visitado pela última vez. Sempre com as paredes sujas e mal cheirosas, as ruas servindo de moradia para muitos, a lua como se estivesse escondida e assustada com aquele lado da cidade. Deixei o carro no estacionamento dos caras que coordenavam a boca, já que era conhecido e respeitado por ali.
Fui até um moleque que eles chamavam de “Rapa”, ele não deveria ter mais do que 18 anos, mas já coordenava toda a grana que entrava e as pequenas quantidades de droga que saíam do maior beco de Nova York, o cara tinha uma responsa grande e era muito inteligente, porém nunca sairia dali, não pensava grande, se contentava com as pequenas quantidades que vendia, com a pequena riqueza, achava que aquilo era suficiente para a felicidade suprema. Ainda bem que eu não era assim.
__Eaí moleque. – Dei um aperto de mão e ele logo suavizou a expressão quando percebeu que era eu quem havia o chamado de moleque.
__Bieber! Achei que nunca mais o veria aqui. Não tinha abandonado essa vida? – Ele disse em um tom debochado.
__ Eu estou aqui, não estou? E minha intenção ao vir até aqui não é fazer brincadeira, me vê meio pacote, e dá boa.
__E tenho cara de quem vende farinha podre por aqui, feio? Tá na mão. – Rapa me entregou meio pacote de cocaína e eu soltei umas três notas de dólares em que eu não me lembro o valor. Estava virando as costas para seguir meu caminho quando ele me chamou.
__Aí Bieber, cola aqui mais tarde, vai ter um pega dos bons, e eu te levo pra conhecer nossos novos investimentos.
__Eu te procuro por lá. – Vi o menino dar um sorriso e voltei para o carro.
Organizei cinco carreirinhas no painel do carro e peguei uma caneta que tinha no porta luvas, a desmontando e começando a puxar a primeira carreirinha. Logo minha noção estava longe de minha mente e a sensação que eu precisava tanto já me dominava. Organizei mais duas carreirinhas e as puxei tudo de uma vez, guardando o resto do pequeno pacote no porta luvas e fungando um pouco por causa da irritação que a droga provocava nas minhas vias nasais.
Encostei a cabeça no banco do carro apenas ouvindo um som distante que vinha do rádio e fechei os olhos, eu só precisava descansar, mesmo estando pilhado demais pra isso. Meus olhos não aguentavam muito tempo fechados e depois de muita insistência inútil, resolvi dar partida no carro e dirigir para lugar nenhum.
P.O.V Selena
Tomei um banho para me arrumar e limpar os locais que estavam enfaixados. Resolvi tirar as faixas e mesmo ainda sentindo muita dor na costela e alguns ferimentos no braço que ainda pareciam abertos, coloquei a roupa mais justa e provocante que tinha, junto com uma velha jaqueta de couro do Justin por cima. Ainda conseguia sentir seu cheiro, apesar de achar que era mais uma loucura de minha mente insana. Completei minha roupa com uma meia meio rasgada que usava na boate e um salto que roubei da Ashley logo depois de ir morar com ela. Lembrar-se desses momentos com Ashley me vaziam sorrir, mas logo um vazio completo me dominava. Eu sentia tanta falta do meu único porto seguro, mas não podia me aproximar dela e causar mais perigo e problemas em sua vida.
Peguei o dinheiro de emergência que Chaz havia deixado para mim em uma gaveta, depois pensaria em um jeito de devolver a ele. Sentia muita dor na costela, então resolvi tomar dois analgésicos para tentar ignorar a dor. Sabia que aquilo não me faria bem, mas eu estava fodida mesmo.  Coloquei um casaco para proteger meu corpo do frio que já caía e caminhei até uma parte mais civilizada daquela região, pegando um moto táxi e gastando praticamente todo o meu dinheiro com ele.
Cheguei à boca de fumo e fui rápida na negociação, apenas comprei metade de um pacotinho de cocaína e alguns outros comprimidos sem chamar muita atenção. Sentei em um canto no fundo do grande beco e andei rapidamente fechando cada vez mais o casaco, não importava quanto tempo passasse, eu sempre seria essa vadia fraca e medrosa. Depois de me esconder e organizar minhas carreirinhas em um caixote velho, cheirando-as em seguida, me levantei e fui procurar outro rumo. Aquele lugar me amedrontava, todos ali tinham uma história bem pesada e uma alma perdida demais para lidar. Prostituas, bandidos fracassados, adolescentes incompreendidos, adultos incompreendidos, pessoas que viram todos os seus sonhos se esfarelarem pelas suas mãos. Todos que não tinham um lugar no mundo, pertenciam àquele lugar, assim como eu. Antes de sair totalmente daquela zona, um menino de não mais que 15 anos me entregou um folheto e um aceno de cabeça e eu logo soube que era pra eu pegar e ir embora. E é claro, ficar calada. Depois de andar para uma rua mais iluminada li o folheto, que avisava de um racha que já devia estar começando, não consegui ver quem organizava ou onde era o local, pois não aguentava nem o peso do meu próprio corpo sobre meus pés, e não estava nada lúcida para alguma frase fazer sentido.  Apenas parei um carro de um homem com uns 40 e poucos anos e pedi uma “carona”. Sabia onde estava me metendo, mas eu não dava à mínima.
__Chegamos princesa. – O cara disse quando finalmente parou o carro junto de todos os outros e eu já podia avistar todas as pessoas e ouvir o som, assim como alguns barulhos de carros correndo. Nessa hora, o velho já havia passado a mão em todas as partes do meu corpo que ele tinha conseguido achar, isso que eu estava de casaco. O puxei para perto o beijando e podia sentir o cheiro de pinga barata e cigarro em sua boca, tive vontade de vomitar na mesma hora, ainda mais que a mistura dos analgésicos com a cocaína estavam fodendo todo o meu organismo. Quando já não aguentava mais e o engraçadinho já estava ficando muito ‘’animado”, mordi forte seu lábio e pude sentir o sangue escorregando e passando para meu lábio também.
__O QUE VOCÊ ACABOU DE FAZER SUA VAGABUNDA? – O cara me afastou passando a mão pelo lábio. Abri a porta do carro sorrindo e cuspindo nele tentando me livrar do gosto de sangue da boca. Saí do carro antes que ele pudesse me seguir e fui me metendo entre as pessoas. Joguei meu casaco na lixeira mais próxima e comecei a dançar junto com a música. Afinal, precisava de alguém para pagar minha bebida.
P.O.V Justin
Não sei como cheguei ao racha, mas aquela altura já tinha misturado todo tipo de bebida e já tinha fodido umas três vadias. Mesmo me esforçando o máximo, continuava praticamente lúcido como nunca. Engraçado como, os problemas geralmente vêm quando você está feliz, e agora meus problemas eram tão assustadores que nem me davam tempo para uma simples felicidade. Eles nunca me abandonavam, nem por um segundo, estava sempre os carregando como uma tatuagem, a única que eu me arrependia de ter feito.
Aquele tipo de lugar não pertencia mais a mim, e eu percebia isso observando tudo encostado no capô do meu carro. A luxuria que existia por ali, a necessidade de dinheiro fácil, de sexo, de drogas, de poder. Todos ansiavam por algo a mais, por uma vida além de algo monótono. Nenhum ali se contentava com pouco, mas tinha pouco. E eles nunca saíram do pouco, nunca. Eu tinha tudo, e no momento que estava passando não ansiava por nada. Não desejava mais nada, não queria e nem podia sair do lugar. Só queria um pouco da felicidade de volta.
P.O.V Selena
Balançava a cabeça como se todos os problemas fossem desaparecer desse jeito. O cabelo já grudava na minha testa e eu dançava com muitos corpos pertos do meu. Consegui muitas bebidas gratuitas e aproveitei para tomar uma “bala” pra “bater melhor”. Eu pisava em nuvens, depois em fogo, de repente estava em um lugar calmo e silencioso e logo em seguida em um inferno. Amava esse misto de sensação, não conseguia abrir meu olho mais do que na metade e apenas sorria sentindo a batida da música. Dancei até não aguentar mais e ser arrastava por algum cara que cheirava a creme de barbear e maconha para um canto. Estava fora da minha lucidez então não me preocupava com nada que estava fazendo ou deixava de fazer. Apenas saia quando achava que já estava cansada e tudo se tornava rotineiro. Eu não procurava por rotinas, e sim por distração.
Fui caminhado pelos carros e esbarrando entre as pessoas tentando não pisar em falso, o que era quase impossível. Ou melhor dizendo, era impossível. Tinha um sorriso bobo em meu rosto e passava a mão pelo cabelo despreocupada com a vida, sem consciência alguma, apenas paz.
Senti um braço me puxando e assim que virei choquei meu corpo contra outro corpo forte, e que cheirava a algo familiar. Sentia meus braços serem apertados com cada vez mais força e lutava tentando sair dali. Olhei para cima tentando encontrar o rosto  do homem que me segurava, mas não conseguia enxergar muita coisa. Só sentia minha cabeça fisgar e meu coração bater mais forte que o normal, sem falar na dor insuportável que o aperto nos braços estava causando. E então eu o focalizei. Espantado, com os lábios entreabertos e os olhos abertos demais, o cabelo caindo sobre o rosto e a barba loira mal feita. Não sabia se era uma alucinação, ou se era alguém muito parecido. Mas eu jurava por tudo que havia de sagrado em minha vida, que quem me segurava era Justin.
Ele segurou meu rosto o apertando e me beijou, talvez para provar que eu era real. E foi aí que percebi que era o Justin, e eu não precisava estar sã para reconhecer seu beijo. Apertei seus ombros, seus braços e seu peito, logo depois agarrando seu pescoço e eu podia afirmar que não me importaria de morrer por falta de ar naquele instante. Eu precisava dele. Justin puxava meus cabelos cada vez mais e com outra mão apertava minha cintura, aproximando nossos corpos o mais perto possível.
Ele me jogou para o capô de um carro e continuou me beijando ainda mais, me dando impulso para sentar no capô e envolver minhas pernas em sua cintura. Beijei o local onde sua barba estava por fazer, a maçã de sua bochecha, sua testa, seus olhos que se encontravam fechados, beijei tudo que conseguia localizar com a boca enquanto Justin beijava meu pescoço e meu colo. Depois de uns 10 minutos ele se separou brutalmente de mim e eu apenas fiquei sem reação.
__Como... Você... Sua vagabunda. – Justin não conseguia formar uma frase e eu conseguia sentir o choque e a tensão em seus olhos. Minha cabeça girava, e eu sabia que se não me apoiasse nele iria cair. Isso não era pra estar acontecendo, eu deveria fugir dele, me esconder ou se não todo meu plano (e provavelmente minha vida) estaria arruinado. Apenas entre abri os lábios olhando em seus olhos sem saber o que dizer, ou o que pensar e ele aproximou mais uma vez os lábios de mim. Antes de encostá-los aos meus, mudou o rumo deles para a minha orelha e sussurrou:
__Entre no carro, e não diga uma palavra. - Sua voz rouca me fez estremecer, e a tensão de não saber o que ele poderia fazer comigo mais ainda.
Como eu nunca ligo para meus sentimentos ou pressentimentos, apenas assenti e entrei no carro, sem encará-lo uma única vez.
Aqui estamos,
Mal posso pensar com tantas pílulas
Ligue o carro e me leve para casa,

Aqui estamos,
E você está muito bêbado para ouvir uma palavra que eu digo,
Ligue o carro e me leve para casa

Passamos o caminho inteiro em silêncio e só quando ele parou o carro é que eu percebi onde estávamos. No velho e escondido galpão.
Justin saiu do carro e eu fiz a mesma coisa, caminhando logo atrás dele. Depois de destrancar a porta, ele me esperou entrar e fechou o portão atrás dele. O olhei com receio, logo esperando uma voz rouca conhecida gritando ou alguma ardência no meu rosto, mas tudo que ele fez foi me empurrar para o sofá e voltar a me beijar. Tirei sua camisa a desabotoando sem cortar o beijo e ele logo tirou minha –ou sua- jaqueta, passando as mãos pelos meus braços e começando a beijar meus ombros, trocando a posição das mãos para dentro da minha blusa agora. Ele andou comigo até a frente do sofá me fazendo deitar e se deitando por cima de mim, tirando minha blusa e meu sutiã. Sem pensar duas vezes, comecei a desabotoar sua calça com uma certa dificuldade, já que Justin estava me enlouquecendo beijando e chupando meus seios e minhas mãos tremiam por causa das pílulas e de toda tensão que sentia.
Só esta noite eu vou ficar e nós vamos jogar tudo fora,
Quando a luz atingir seus olhos,
Estará me dizendo que estou certa,
E se eu,
Se eu acabar,
É tudo por sua causa
Apenas esta noite.

Quando finalmente consegui tirar sua calça, já estava completamente nua –e louca-. Justin se posicionou em mim já com a camisinha e depois de uma troca de olhares impiedosos, começou a me penetrar, devagar. Fechei os olhos gemendo alto e o puxei pelos cabelos alcançando seus lábios e tornando daquele momento eterno. Não continha um gemido, um movimento, um beijo, uma mordida, um chupão. Fiz tudo com os olhos completamente fechados, saboreando cada momento, cada investida que Justin fazia, invertendo suas entocadas entre lentas e torturantes e rápidas e deliciosas.
Aqui estou eu,
E eu não consigo ver direito,
Mas eu estou muito entorpecida para sentir agora.

E aqui estou eu,
Olhando para o relógio que está levando embora meu tempo,
Eu estou muito entorpecida para sentir agora.

Assim que cheguei ao meu ápice e Justin também, o abracei forte pelos ombros e ele me envolveu pela cintura, apertando minhas costelas em uma dor maravilhosa. Justin me colocou de lado, saindo completamente de mim e encostando a cabeça em meu ombro. Ele suspirava e eu sabia que queria falar algo, e eu também queria, mas estava cansada demais pra isso. Maravilhada demais pra isso, feliz demais pra qualquer tipo de coisa.
Você entende quem eu sou? Você quer saber?
Você pode realmente ver através de mim?
Agora eu tenho que ir.

Já havia se passando horas e Justin dormia, mas eu não conseguia nem ao menos fechar os olhos. O efeito da droga já havia praticamente passado por completo, ou era minha mente perturbadora que era mais forte que qualquer alucinógeno. A sensação de ter os braços do Justin me envolvendo novamente era como estar no paraíso e saber que tem que ir embora, ou ter a sensação de que a qualquer momento, vão te expulsar, ou tudo vai se tornar em um inferno novamente. Eu sabia que não podia voltar pra ele, para aquela casa, sem falar que teria que passar por todo um interrogatório e uma dor inconsolável que só Justin e suas crueldades podiam me dar.

Apenas hoje à noite
Eu não vou ir
Eu vou mentir e você vai acreditar,
Só hoje à noite,
Eu vou ver que é tudo por minha causa.

Mas algum imã, alguma coisa, alguma “força” me fazia ficar. Obrigava-me a ficar e nunca mais ir embora. Porque era ali, que eu pertencia, eu pertencia àquele homem e nada que eu fizesse poderia mudar isso. Eu apenas... Precisava me proteger antes, e ter a certeza que estava completamente segura novamente.
Só precisava lutar com meu último e único demônio do passado, para poder começar um futuro com Justin.

P.O.V Justin
Acordei com seu cheiro doce, mas abri os olhos percebendo que era um doce nada. Nenhum sinal dela ali, que antes estava ao meu lado. Sabia que não era uma alucinação, pois todos os rastros dela continuavam ali, e sua jaqueta jogada no braço do sofá só confirmou tudo para mim. Levantei furioso e a peguei na mão, sentindo seu cheiro e logo depois a jogando no chão. Ela não poderia ter me deixado de novo, ela não poderia e não iria me fazer de idiota. Não mais.
Você pegou meu coração e entregou sua boca
E com a palavra, todo o meu amor saiu à tona
E cada sussurro é pior
Esvaziado por uma única palavra
Há um vazio em mim agora.

Eu não ia mais aceitar uma vida sem ela, não tendo a certeza de que ela estava viva e que a tive toda para mim na última noite. Ela não ia desaparecer da minha vida nunca mais, e eu iria até o inferno para trazê-la de volta. A verdade é que não importava o que ela queria, ou o quanto estava me fazendo de idiota forjando sua morte, ou me fazendo acreditar nela. Eu precisava de Selena mais do que tudo, e as coisas só voltariam a andar como antes se ela estivesse no jogo junto a mim.

Então eu coloquei minha fé em algo desconhecido
Estou vivendo em um nada tão doce
Mas eu estou cansado de esperar e não ter nada para segurar
Estou vivendo em um nada tão doce
E é difícil aprender
E é difícil amar
Quando você está me dando um nada tão doce.

Não sabia como havia a encontrado, e como talvez agora eu começasse a acreditar em destino, a única coisa que tinha a total certeza é que ela estava ali, mais viva do que nunca, mais minha do que nunca. Eu a vi, a toquei, a senti, de carne e osso, minha linda Selena... Ela estava me deixando louco por nada.
Andava de um lado para o outro como um maníaco, puxando os cabelos e bufando alto. Ela estava viva, estava escondida em algum lugar, sendo encoberta por alguém e eu fui estúpido demais para não pensar nessa hipótese.
Não é fácil pra eu deixar pra lá
Porque eu engoli cada palavra
E cada sussurro, cada suspiro.
Varre esse meu coração
Há um vazio em mim agora.

Selena estava viva, e eu reviraria esta cidade, este estado, este país, o mundo inteiro se fosse preciso... Mas eu a teria de volta.

E eu podia afirmar isso com toda a certeza.